As viagens de Lauro Andrade pelo mundo têm um propósito singular. Elas são autobiográficas. Constituem uma maneira de ganhar perspectivas valiosas na jornada pessoal pela vida.
Andrade não documenta suas viagens de maneira tradicional. Ele emprega a fotografia como uma ferramenta para coletar dados na forma de imagens, tanto de pessoas quanto de lugares, matéria-prima na criação de metáforas visuais complexas que representam as situações em que ele se encontrou durante suas viagens. Tais viagens são, simultaneamente, espelhos e janelas: trazem clareza e profundidade aos seus pensamentos, sentimentos e perspectivas sobre o lugar que ocupa no universo.
Em virtude disso, imagens de pessoas e lugares nesta exposição refletem compreensões acerca de uma realidade existencial particular, uma dinâmica de interações imprevisíveis em constante evolução. Ilustram a importância da visão periférica e a interferência desta na compreensão de sua própria vida e das dos outros. Andrade percebe que existe, invariavelmente, uma miríade de eventos adjacentes e sensações que transcorrem ininterruptamente à nossa volta – a maioria, mal percebemos, e mesmo quando o fazemos, atribuímos pouca importância. Ele, no entanto, parece ter olhos atrás da cabeça ao reunir fragmentos e detalhes de sua visão periférica, priorizando-os ao compor uma visão panorâmica de sensações e pensamentos reflexivos sobre suas experiências.
O processo criativo de Andrade envolve a desconstrução, reestruturação, repetição e reconstrução de imagens compostas de fragmentos de fotografias entrelaçadas com elementos gráficos arrojados sem textura. O assunto documentado é removido de seu contexto original, sintetiza as experiências à essência e, desse modo, interfere em nossa capacidade de percebê-las claramente. Tal re-contextualização das situações, bem como as experiências pessoais que provocaram, reformula a informação original conceitual e esteticamente, e promove uma perspectiva mais ampla sobre a situação específica que está sendo descrita. O resultado é uma forma dúbia de realismo semi-abstrato, com nuances impressionistas ambíguas.
A magia de Andrade é encontrada em sua capacidade de identificar e revelar significados simbólicos onde a maioria de nós não percebe nada de aparente importância. As justaposições resultantes da democratização de sensações e eventos que ele propõe expressam eloquentemente a ambivalência nascida do uso da interferência como metáfora para os eventos inesperados que constantemente animam nossas vidas das formas mais improváveis e íntimas – ambiguidade que é tão concretamente produtiva quanto fugaz e intangível.
A vida certamente não é uma narrativa linear para Lauro Andrade.
Curador / Diretor de Arte