Fractal, à maneira de Marcos Bento
Ao examinar a série de pinturas recentes de Marcos Bento alguns pontos são, num primeiro momento, claramente identificados: o intenso vigor pictórico, a elaborada composição gráfica e um inquietante mergulho à solidão.
Na amplidão do mar, nas águas carregadas de sal, nos impactantes duelos com arenitos vulcânicos que brotam das incógnitas profundezas de sua alma, o artista se movimenta em direção a uma aparentemente inatingível linha do horizonte. Há força e leveza, há obsessão laboral e ruptura na dualidade e simbiose em seu atual discurso.
Ao surpreendente resultado há de se considerar as ancestralidades na trajetória de Marcos Bento: as lembranças das viagens com o pai, fotógrafo de imagens aéreas, o rigor do desenho como artista gráfico e comunicador visual, a pioneira consciência da ecologia numa obra artística, o corolário de prêmios em salões de arte pelo país, a busca incessante, compulsiva até, pelo reconhecimento, a ausência do filho…
Perguntei, certa vez, por que pintar esse tema?
– “Por causa do arrebatador e intermitente som das ondas do mar que trago desde minha infância nos alegres verões junto à minha família.”
Fractal – a série que dá título à esta exposição – sintetiza em imagens a fragmentada memória do artista e do cidadão Marcos Bento.
Edson Busch Machado, curador