Hipóteses Mágicas – Giovana Casagrande

21/10 até 18/11

HIPÓTESES MÁGICAS         

Carregadas de entendimentos amplos e incompletos, com grande espaço para o não comprovado, a dúvida, a surpresa e o espanto, porém com capacidade de exercer fascínio sobre os humanos, assim são as magias.

Parentes da arte em sua gênese, fazem parte de um domínio ancestral que não pretende esclarecer ou explicar, mas que, se algo pretendem além de exercitar a vida em sua completude, será a condição de estabelecer conexão com a subjetividade.

Campo em crescente desuso na contemporaneidade que venera o objetivo, a subjetividade, é substituída por estratagemas, sociais, químicos e demais, que no entanto, não logram superar o vazio do desequilíbrio causado pela cisão..

Opondo-se a este panorama, fogo, sangue e terra, ritualizados, constituem uma condição de compreensão do ancestral e do cósmico, capaz de se manifestar-se, ainda hoje aos muito dispostos e conectados.

Giovana Casagrande, pintora e ceramista, pratica a cerâmica a partir de tais premissas e de lógicas pictóricas.

Fortemente impactada por conexões antigas e pouco explicadas, capazes, no entanto, de relaciona-la com toda a potência da vida, Giovana permite que os aspectos menos controláveis, participem da arte que pratica.

Giovana atende às demandas da matéria e aceita realizar o processo entregando-se a ele, sem a ambição de controla-lo, ciente de que suas matérias, terras, sais e metais, submetidas ao fogo, pertencem ao domínio do mágico, no qual ela, mesmo artista atenta e estudiosa, manda pouco.

Primitiva, intensa, colorida, irregular, imperfeita e acidentada, são atributos da cerâmica de Giovana, que frequentemente é completada por procedimentos têxteis.

Capaz de despertar memórias, e saudades do que não sabemos nominar, a obra de Giovana estabelece relações com as práticas humanas mais triviais, associadas com a elaboração alimentar, com a sexualidade, e com aspectos materiais de nossos próprios corpos, ou antes, com os infindáveis corpos de tantos quantos compuseram os grupos sociais ao longo dos processos históricos, sobre a superfície da terra.

É uma obra capaz de muito, que tem na opulência do processo os elementos vinculadores, com o que quer que seja acessível a cada observador, vincular.

É uma obra que se apresenta ainda em processo na medida em que a artista dá-se ao direito, mesmo depois de dois anos de trabalho, de não apresar-se na busca por uma forma final, mas que antes aceita, mostra-lo pendente ou deitado sobre o chão, como ocorre no processo de tantos alimentos, que devem secar, ou amadurar colocados sobre a terra, sobre um espaço de sol, às vezes à sombra, ou ainda reservados no escuro, o tempo necessário para que cheguem ao ponto de maturidade excelente.

Assim é o trabalho, assim é a artista Giovana Casagrande, que trabalha por seu próprio amadurecimento artístico, e embora tenha muito rigor, não tem pressa, como convém a quem busca sua melhor forma.

Celaine Refosco

Setembro de 2023

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