O EXPRESSIONISMO ABSTRATO DE MÁRIO TIMM
Instigante é algo que provoca sensações, que estimula a reflexão, que incita a curiosidade. É a semente que brota nas artes. Pintar, cantar, dançar, interpretar, esculpir, escrever, é um estado de existência para o artista, o poeta, o ator, o músico.
“Instigante” é o título que o artista Mário Timm escolhe para sua exposição individual a convite do Instituto Internacional Juarez Machado. Fica claro, neste gesto, sua intenção de exaltar o espontâneo, o irracional, o imponderável.
Mário Timm é pintor catarinense que atua na geografia do seu Estado natal e explora uma série de direções e temas ao longo dos anos. O conheço desde seus primeiros estudos em desenho e pintura em 1980 e o acompanho em seu vibrante percurso de participações e premiações dos Salões de Arte e demais certames artísticos.
Combinadas, alinhadas e misturadas essas três questões, ficam iminentes dois novos desafios: a produção plena do artista e o olhar cúmplice do curador.
O Mário Timm, de sua parte, mostra-se superlativo. Durante o período da pandemia, enquanto o mundo desconstruía-se de valores e modelos, o artista, recluso, produz mais de uma centena de pequenas telas coloridas pintadas com a força e o mistério de um eremita. Transforma a solidão num robusto discurso pictórico, aplaca sua dor nas tintas rasgadas em largas pinceladas gestuais, libertárias, messiânicas.
A representação das pinturas escolhidas na instigante coleção, mostra o artista com força centrífuga, às vezes exacerbado e exultante, outras vezes melancólico e desencantado. Afirmação e negação, desvendada a percepção de sua personalidade pendular, Mário Timm configura-se, com exorcismo, num autêntico artista expressionista abstrato.
“É desastroso rotularmo-nos”, afirmaram os expressionistas abstratos em Nova York em meados do século XX após a Segunda Guerra Mundial, quando da criação do grupo estrelado por Willem de Kooning, Jackson Pollock, Mark Rothko, Robert Motherwell entre outros. É nessa fonte ancestral, transgressora, revolucionária e contraditória que Mário Timm bebe seus conceitos. E nos traz à luz, com identidade própria, a profusão de ritmos e massas cromáticas, acrescidas de superfícies rugosas e referências Pop nas colagens.
O conjunto, proposto pela curadoria, das 101 pinturas na exposição “Instigante” é o registro – em obra aberta – das paredes de seu ateliê. Caos e simetria.
Edson Busch Machado – Curador