Juarez Machado na Hora do Recreio

28/11/2015 até 24/03/2016

E tudo começou aqui mesmo, em Joinville. Lá longe na história. O mundo já existia e em plena guerra, 1941. Recém-nascido, curioso, queria descobrir e conhecer este imenso jardim do paraíso. Um magro bebê, feliz em fazer parte desta fauna humana, pois para mim era tudo novo. Encantado em tocar os objetos, escutar e ver o brilho do sul, a noite, as plantas, as casas, as pessoas e a chuva. Cada dia novidades que me construíam, o calor, o frio, a família, o sabor da comida, o cheiro de roupa e o gosto de viver. O tempo passava lentamente e os dias eram longos, apressado queria ir para a escola, amigos, brincadeiras na rua, o cinema, o rádio, crescendo agora rapidamente os cadernos, os livros, os bailes, as primas, as festas. Esperando as férias de verão na praia, os presentes de natal… lápis de cor, papel de desenho e uma bicicleta. Já na pré-adolescência curioso e inquieto buscava minha identidade. Queria ser Juarez Machado, pois tive um sonho, penso que foi real, ainda muito pequeno, que tinha encontrado um senhor, numa esquina qualquer, simpático e elegante de uns 50 anos. Era um pintor e que se chamava Juarez Machado. Perguntei a ele se era bom ser artista, ele respondeu: – É o seu destino, pois eu sou você com 50 anos, estude tudo e mais um pouco.

Já na infância minhas habilidades artísticas usava para me construir, desenhava na borda branca das páginas do jornal, brincava com as tintas da minha mãe, que pintava leques e os formões de entalhes na madeira que meu pai fazia para construir relógios de parede e caixas de música. A mesa de jantar da nossa casa já era um atelier.

Depois da escola, de bicicleta ia buscar barro nas margens do Rio Bucarein para modelar meus primeiros bonecos. Criando assim meu próprio planeta com seus habitantes. Esculpi e desenhei os meus heróis e bandidos, fadas e bruxas, sonhos e desejos. Fiz da minha infância uma grande “Hora do Recreio”.

Adolescente, seguro em ser Juarez Machado artista, atravessei a linha do horizonte em busca de cultura, museus, escolas, artistas, anatomia, perspectiva, geometria, composição, o traço forte, a linha segura, as cores perfeitas, a harmonia ideal. Milhares de quadros, toneladas de desenhos, quilômetros de textos, correndo o mundo em exposições, galerias e museus, meu pequeno planeta agora transbordando de marchands, clientes, amigos, admiradores, estranhos, passantes, compromissos, televisão, cinema, teatro, viagens perdi a noção da noite e do dia. Tudo com muita inspirada disciplina para bem fazer minha arte.

Hoje à beira dos meus 75 anos me permito um pequeno momento de recreio com tudo que aprendi, pois nesse instante o mundo deu uma volta completa, tal qual em 1941. Estamos entrando numa 3 Guerra Mundial e chamei este novo tempo, do meu “Nascer de Novo”… e caso encontre algum garoto numa esquina qualquer com ele me perguntando se é bom ser artista, irei responder: “- É seu privilegiado destino”.

Juarez Machado

novembro de 2015.

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