Sempre me interessei por processos artísticos subtrativos, ou seja, a onde a criação não é feita naquilo que se adiciona, mas na escolha do que retirar: A escultura em mármore; a xilogravura; a edição de um filme; são alguns de muitos processos onde a obra é construída pelo acúmulo de ausências. Mesmo numa colagem, em que elementos são recortados e sobrepostos, o que mais me interessa é a estranheza do deslocamento das partes e das junções criadas pelo corte.
Essa mostra representa uma série de obras tendo em comum o corte como traço:
Os velhos atlas geográficos encontrados em sebos, passam pelo fio da navalha e se transformam numa outra topografia.
Os livros esculpidos, obsessivamente dissecados por um bisturi, página por página, revelam outras histórias, universos interiores.
As esculturas de parede em assemblage e os filmes, também funcionam como diferentes plataformas para explorar o rico significado do corte.
O corte tem caráter duplo e paradoxal, como uma cicatriz que separa e une ao mesmo tempo. O corte é rigor e liberdade; morte e nascimento; parte fundamental da lavoura, a foice alimenta o solo com aquilo que derruba. Da mesma forma, o ar que existe em volta das coisas é como o eco dos objetos, o seu negativo espacial. O corte interfere com esses limites, ampliando horizontes e gerando transformações.
É com muito orgulho que apresento meu trabalho nesse exato local, onde há pouco tempo, eu andava de mãos dadas com a minha avó, passeando pelo seu florido jardim, suas plantas se infiltraram pela estrutura e desabrocham em flores transformadas em arte nas paredes do instituto. Sua presença também está aqui como o ar que nos cerca.
Parabéns meu pai, parabéns Instituto Internacional Juarez Machado! Desejo a vocês muitas primaveras neste belo jardim.
Joinville, 2016