Recortes de um lugar

18/08 até 14/10

                    A ABSTRAÇÃO LÍRICA DE MAZÉ

          Uma das mais respeitadas representantes do movimento artístico contemporâneo paranaense – Mazé Mendes – é a convidada do Instituto Internacional Juarez Machado para apresentar ao público catarinense sua mais recente produção.

          Escrevo sobre sua pintura à luz de uma perspectiva particular, pois conheço a Mazé desde os tempos de estudantes na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Já na década de 1970, em sala de aula, essa artista revelava extraordinário talento nos exercícios das disciplinas de desenho, de gravura e de pintura. E, na sequência, numa carreira forjada em profundas e ousadas pesquisas, seu nome se acentua nas inúmeras participações e premiações nos salões oficiais de arte.

          Mas foi num encontro recente diante das obras de sua mais nova série exposta no MON-Museu Oscar Niemeyer –  “Recortes de um lugar “ –  sob a criteriosa curadoria da professora Rosemeire Odahara, que sua arte intensifica o impacto e o encantamento. Pela condição de nossos espaços no Instituto, uma fração de “Recortes de um lugar” é a exposição que a artista nos oferece agora, e fruto de nosso comentário seguinte.

          Em telas em grandes formatos, Mazé Mendes materializa as questões transitórias do tempo ressignificando os múltiplos olhares ante o caos urbano e as profundas marcas da memória. Da infância e da juventude em cidades do interior do Estado, a artista traz os primeiros referenciais de arte que tomou conhecimento, por meio dos povos originários. Hoje, embora vivendo e trabalhando numa metrópole, mantém seu ateliê entre a vegetação exuberante e o ambiente idílico.

          É o imenso senso de observação aliado ao forte gesto de mulher engajada à sua época que traduz hoje a carga vital de seu discurso pictórico. Manchas do tempo, imagens disformes nos muros das grandes cidades, resíduos de paredes grafitadas, mamadas cromáticas sobrepostas nos outdoors de estradas, resquícios de signos abandonados em tapumes de construção, tudo passa por seu olhar. A artista recodifica, transfigura, reinventa esse caldeirão urbano invasivo na natureza para transformá-lo em amplas áreas de reflexão e refinamento. Com sabedoria e competência no ofício de pintora contemporânea, conjuga os códigos do expressionismo abstrato ao abstracionismo lírico, manifestações artísticas relevantes do continente europeu.

          Assim, o vocabulário caligráfico da artista  Mazé Mendes é universal na medida que faz parte do seu e do nosso cotidiano.

                                  Edson Busch Machado

                                           Curador   

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