A incumbência de fazer curadoria desta exposição com um olhar desprovido de qualquer sentimento familiar foi o quesito mais relevante para a concordância do projeto. A missão foi desafiadora, os olhares que se permitem à produção artística de Hamilton Machado são infinitos.
A composição é apenas uma das intermináveis possibilidades e, com a valorosa contribuição e acervo de seus familiares, de colecionadores particulares, do Instituto Festival de Dança de Joinville, da Secretaria de Cultura e Turismo por meio do Museu de Arte de Joinville, Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville e Galeria de Arte Victor Kursancew, expõe-se ao grande público, pela primeira vez na história, um rico e diversificado conjunto de obras e técnicas, registros e documentos, informações e conhecimentos sobre a sua trajetória artística e produção criativa.
Hamilton nas décadas de 1970 e 1980 pintou a anatomia humana revelando a alma. O sonho e a fantasia eram parceiros em suas criações. Retratou suas angústias, alegrias e deformações em desenhos únicos. Aventurou-se em transmitir suas inquietações e sentimentos mais variados aos simpatizantes de arte. Dizia que uma mostra individual deve exibir coisas do artista e não apenas trabalhos seus. Aí está!
O Instituto Internacional Juarez Machado recebe Hamilton Machado com o melhor de sua arte. A distribuição pelos espaços expositivos propõe estabelecer um fio condutor, agrupar informações, interagir e criar conexões entre início, meio e fim artístico.
Depara-se com o início da carreira manifestando ora o lado artístico compromissado, ora o lado descompromissado através de um simples esboço com nanquim num papel amarelado. Remete ao passado com seus pertences e ao deleite com sua expressão máxima e constante. Revelam-se cenas do cotidiano, estudos, retratos como ilustrações mais aprimoradas para eventos como o Festival de Dança de Joinville.
O adestramento perfeito do bico de pena, na pintura brinca com muitas cores e formas como arlequins e figuras desconstruídas. O domínio em anatomia humana aliado ao desafio de experimentar múltiplos e inusitados materiais como a execução do Diorama criado em 1991 no Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville – trabalho considerado singular ao legado do artista. Socapi (ou Hamilton) seduz através do Túnel do Tempo.
A inusitada instalação de uma reprodução macro provoca a livre intervenção de sua criação pela natureza. Em outro momento interativo, o convite ao desfrute de se tornar personagem de obras de Hamilton, permitindo expressar as emoções individuais ou perceber as mais variadas reações ao vivenciar momentos e sensações ímpares, estimulando a conexão entre obra x espectador x artista.
O 166º aniversário de Joinville será sempre marcado pelos 25 anos da morte de Hamilton Machado. Eternizado pela própria arte, eis a nossa homenagem a um dos maiores filhos desta cidade.
Maria Helena S. Scaglia – Curadora