A criação das obras nasceu um pouco antes do surgimento da pandemia, quando o artista visual RICO MEDONÇA começou seu processo de clausura causado pela perda da sua mãe. Permanecer no isolamento depois foi um processo de cura e criação, que trouxe à cena um ser mitológico, uma mulher com várias formas, muitas mulheres ao mesmo tempo, com diversas identidades e inspiradas em Dona “Zeza”. Todas as mulheres criadas por RICO MENDANÇA carregam no modo de vestir a poesia e a cultura do vestuário como personificação das nossas identidades.
Nos cabelos, curtos ou longos, em suas variações, a força da construção e da desconstrução da feminilidade em toda sua potência, a consciência de uma mitologia autoral, que permite uma leitura contemporânea, sem deixar de lado os traços e cores clássicas, como o dourado, ressignificando um símbolo de força e poder através dos tempos.
Todas as mulheres “Z” estão inseridas em espaços de natureza, com leveza, voltadas a contemplação e reflexão, como se estivessem esperando algo chegar. Cada mulher tem seu estilo, vive, pensa e deseja diferente, mas todas elas acabam se encontrando em suas alegrias e aflições, criando uma identidade humana ancestral e futurista. A forma é a da beleza por fora, no interior só elas sabem o que se passa e como escondem suas cicatrizes, uma poetização da estética para mudar o foco, algumas vezes reveladas pelo olhar em pedidos de socorro.
A coleção foi criada toda em papel folha A4, com duas texturas de nanquim. Numa impressora de alta tecnologia, os desenhos foram aumentados e depois transferidos para o tecido de puro algodão, mantendo as nuances originais, todos repintados e finalizados com dourado e prata, traços minuciosos para criar os aspectos medievais e intuitivos de cada obra, um processo que o artista foi descobrindo e criado sua técnica.
Nesta exposição, RICO MENDONÇA, em parceria com o INSTITUTO JUARES MACHADO, marca um encontro consigo mesmo para revelar uma de suas facetas de criador, um recorte de sua carreira em diversas áreas da arquitetura e da pintura, no abstrato do seu luto, expectativa, dor, amor, vitória e esperança diante do portal eterno da vida, onde a Senhora “Z” nos espera para abrirmos a alma com mais leveza.